31.3.08

< /days left > a lot to do. < no time left >




Daqui a umas horas, volto ao "edíficio que nunca dorme", e começo a pensar naquilo em que me tentei esquecer nos últimos dias. A fatalidade de que há tanto para fazer, num "período" que, até final de Junho, vai parecer interminável.

Ou então não, porque entretanto, vou ser absorvida. Aliás, vou ser engolida. e depois, vomitam-me com uma agressividade e um sorriso, que se pretende entender como parte de um processo natural. No entanto, as primeiras horas de "férias", depois de primeiros minutos vestidos de euforia, são sempre algo absurdas. Uma pessoa sente-se deslocada e inútil.
Nas últimas horas, quase damos a vida, não comemos, não dormimos, com um sentimento de urgência que nos ultrapassa. Uma arritmia parva que no momento de ruptura, deixa de fazer sentido. E o coração, até acalmar, dá-nos uma sensação de falsa "ausência". Sentimos quase que perdemos identidade, que falta qualquer coisa. Por momentos não sabemos o que fazer, e damos por nós enérgicos a arrumar coisas, a tentar desesperadamente "não perder o ritmo".
Revemos o que fizemos, o que gostariamos de ter feito, mas não tivemos tempo, e ainda, tendo tempo, aquilo que fizemos, mas que não deveriamos ter feito.
Ao mesmo tempo, naquele momento, já nada daquilo tem importancia e, progressivamente, num tal estado de saturação, desprendemo-nos. Mesmo que nos pedissem para mudar, já não queriamos saber (preferiamos nem ter de ir para a Anuária, só pelo ter de voltar a abrir o entrega final.pln e montar novos painéis. Não é 'ianapaula?! ahah).


Até lá.. há muitas arestas para limar. espaços para limpar, redesenhar, redefinir. :) e não podia estar mais motivada. Aliás. amanha eu vou estar motivada.
Porque hoje (ainda domingo) estou em transição.







*

28.3.08

"Dear architects". duas visões?



A visão de uma outsider (pela escritora Anni Choi).



E a visão de um arquitecto (pelo e-studio).


Podem-se procurar as diferenças entre os dois...

...e encontrar as semelhanças com a verdade.
:)



(Tenho de no segundo "ensaio" admitir que, á excepção da genial 1ª coluna mais umas poucas expressões, metade do que é dito, me escapa completamente. )

gestos.




O meu pai passou-me para a mão, numa atitude de "quem não quer a coisa", um Guia da Austria! (Assim.. daqueles American Express, mesmo à Turista.) Fê-lo como se não fosse nada com ele, como se nada de importância tivesse - "ia a passar no quiosque, e comprei" -, sem se quer pensar que eu daria valor.

E a verdade é que se foi um ENORME gesto, foi ainda maior pela simplicidade com que o fez.
O meu pai era a única pessoa que ainda não se tinha mostrado minimamente entusiasmada com esta perspectiva de me ver fora, de ter de me sustentar um ano inteiro num país que, pelo que consta, "não é dos mais baratos".

Abri-o, e no canto superior da primeira página, tinha escrito o meu nome, e a data.

Vê-lo assim empenhado.... deixou-me feliz.
E era só mesmo isso que queria partilhar.




(Para Guia Turístico, foto Postal :D)

27.3.08

beijing na ordem do dia.









Contra todas as adversidades, a qualidade do projecto para Beijing e dos seus autores é inquestionável.
No entanto, já inquestionável não será o esforço que se segue à utopia que conduz qualquer projecto - as condições às quais os trabalhadores são sujeitos, em obra, durante todo o processo de construção.

Podem-se colocar todas as questões de ética (extendendo-se a Hadid e Foster); se os arquitectos (como construtores de uma visão de um mundo) deverão ou não coadunar-se com regimes políticos totalitários e opressores. Porque no fundo, se o arquitecto toca todas as esferas sociais e políticas (não querendo isto dizer que as controle) a arquitectura deverá ser uma arma crítica dessa mesma sociedade.


A resposta talvez passará pela comparação com a mesma questão em outras actividades - como os advogados que, independentemente, do carácter da pessoa que estão a defender, têm de o fazer imparcialmente; como os médicos, que não se recusarão a tratar um cancro do pulmão, só porque a pessoa fuma; como os arquitectos se não recusaram a desenhar estádios para o Euro 2004, mesmo sabendo que era um investimento excessivo.

Obviamente, tratando-se de direitos humanos, a discussão ganha contornos distintos e a objectividade desvanece-se. Porque, uma coisa é a recusa total do projecto (e aí, dou o assunto por encerrado, porque colocar esta questão é um desvio do verdadeiro problema); outra completamente distinta, é fazê-lo, tendo em conta os recursos e os meios existentes e disponíveis. E penso que é aqui que reside a essência da polémica.

(Quanto a esta questão,
Ai WeiWei, proeminente artista chinês que participou no projecto, respondeu com distanciamento, justificando-se com a falsa e hipócrita pretensão do governo chinês - "a pretend smile". "I hate the kind of feeling stirred up by promotion or propaganda … It's the kind of sentiment when you don't stick to the facts, but try to make up something, to mislead people away from a true discussion." )



No entanto, enquanto o "filme" se desenrola e não chega o documentário, contentemo-nos com o trailer.

Schaub and Schindelm’s documentary follows two Swiss star architects on two very different projects: the national stadium for the Olympic summer games in Peking 2008 and a city area in the provincial town of Jinhua, China. Architects Jacques Herzog and Pierre de Meuron are literally building bridges between two cultures, two architectural traditions, and two political systems. Their work doesn’t simply enhance China’s great international debut, but serves the everyday needs of the Chinese population. “Bird’s Nest” presents the Basle architects as they find solutions not in the comfort of an ivory tower but in encounters and friction on the ground.


Está também disponível no You Tube um documentário completo sobre a relação entre os Jogos Olímpicos e a Cidade de Beijing, incidindo em todo o processo de concepção e construção do Estádio; e disponível na íntegra aqui.


26.3.08

cortar com o habito II.


*stefano galuzzi

...parece que me levei demasiado a sério.

De tal maneira que olho ao espelho e, numa primeira impressão quase não me reconheço; quase não me sinto eu.

25.3.08

cidade (des)contí-nua.


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Perdoam-se os arquitectos, uns aos outros, entretidos com capas das revistas ou a fazer pela “vidinha”, perdoam-se os políticos, pelo viver habitual pátrio, perdoam-se os urbanistas, subtraídos à forma das cidades, perdoam-se os engenheiros, mais interessados em abrir as hiper-vias do futuro, perdoam-se os consumidores, que tudo devoram desde que tenha cachet, mas não se perdoam as cidades.
E elas crescem pela corrente de qualquer coisa que não sabemos ainda entender bem.
Não é da sociologia, nem da racionalidade pura da contagem dos minutos até ao centro da cidade, não é da arquitectura, porque já tudo é um pouco feio, não é da cultura, porque essa já é quase igual em todo o lado.

Faltam-nos cidades civilizadas. Falta-nos a liberdade de poder dizer, aqui, e habitar aqui, sem razão aparente, apenas porque se gosta ou detesta e não porque nos condenamos a ser remediados e com a vida e as cidades adiadas.
Persistimos, técnicos e cidadãos, no total abandono, desleixo, com que desistimos das cidades. Reproduzem-se os mesmos "modelos", habituados, desadequados, envelhecidos, experimentados e negados, apenas porque há um “modelo”. Mas as cidades recusam um “modelo”.

A história recorre ao sabor da irracionalidade do desejo e, o desejo de quem faz a cidade portuguesa, é pobre, infeliz e triste, e apresentado com o vigor com que o novo
design de comunicação nos abraça em promessas de um futuro que faz esquecer o presente. E a nossa modernidade, anacrónica e já fora da história, é um zonning obtuso, custeado por grandes pequenos médios promotores, complacentes arquitectos, passivos cidadãos, aos quais a política se submete. São as aspirações centrais e o jacuzzi e a hidromassagem sem tempo, mas com a esperança de que um dia, as novas acessibilidades restituam alguns minutos perdidos na ansiedade da viagem madrugadora – a 20 minutos de Lisboa, dizem.

A nossa contemporaneidade é o abandono e o desamor da paisagem, o libidinal betão armado convertido rapidamente em ouro e em deserto.

Tudo a 5 minutos do centro da cidade – já só falta querer viver na cidade.


in khiasma


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concurso fotografia faup.


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No âmbito do “Ciclo Fotografia na Arquitectura” - inaugurado a 3 de Março com uma conferência com o arq. Carlos Machado - e que conta ainda com as de Fernando Guerra (28 de Abril) e Eduardo Souto de Moura (9 de Junho), a FAUP o e a Olympus criam um concurso de fotografia, aberto à participação de todos, com o objectivo de sensibilizar o público para a Arquitectura em Portugal.

Pode ler-se na página de apresentação do evento,
"Se o arquitecto observa e desenha, induzindo mudanças na forma, o fotógrafo analisa e reconstrói esse espaço, restituindo uma imagem.
Como o arquitecto que observa o contexto no qual deve referenciar a sua intervenção, o fotógrafo vê, pesa e procura o olhar nesse mesmo lugar, como se estivesse também ele prestes a agir sobre a envolvente. O seu olhar é significativo, não tanto enquanto compositor da circunstância de uma cena urbana, mas enquanto visão crítica que selecciona atentamente, filtrando interferências, equacionando tensões, procurando tornar inteligíveis situações específicas para além da forma imediata.
O fotógrafo olha como quem constrói."


Os últimos olhares premiados foram estes.

A programação e regulamento podem também ser consultados no site respectivo.

24.3.08

miss shot & shock.




















decidi partilhar (algumas d)as razões pelas quais esta designer é, de todos, a minha favorita.
o tom descomprometido, inesperado e apaixonado com que o faz só o reforça.


(alguma semelhança entre pessoas que conhecemos e as representadas é mera coincidência)

m.i.a. vida está complicada.



Acho que devia tirar uns segundos para pensar na possibilidade de arranjar um part-time, para garantir sobrevivência.

Depois do arrombo que foi em Paredes de Coura..... estou ! :)

:
E Nouvelle Vague voltam pela Quinquagesima vez, a 11 de Julho, para o Alive.

23.3.08

antony. mulheres. emoções.


foto. peter hujar

"Em 1974, Candy Darling musa de Andy Warhol estava numa cama de hospital e tudo que restava de um passado de glamour eram lembranças. Apesar do cenário de dor, sofrimento e resignação, Candy estava com o seu melhor vestido e sua maquilhagem escondia as marcas de sofrimento, causadas pela leucemia e pela SIDA. Também flores, como despedida, completavam o quadro. É com esta imagem de uma superstar drag de Warhol que Antony and the Johnsons inicia a sua segunda obra: "I'm A Bird Now"."
via last.fm

Conheço-o desde aí e arrepiei-me, como nunca tinha acontecido, quando, num ar de "bebé" gigante e exposto como arma de amor e dor maciça, o ouvi no Theatro Circo, durante a digressão "Turning" com Charles Atlas - artista americano que combina video com a performance, responsável pela dimensão visual do espectáculo.
Altamente exclusivo e apresentado apenas em mais 4 salas europeias, baseou-se na sucessão de imagens - no momento captadas, processadas e projectadas por Atlas -; uma espécie de retratos vivos, íntimos e quase hipnóticos, de diferentes "mulheres" que, em cima de um apoio giratório no palco que lhes dava, lentamente, movimento, dotavam a música de uma personalidade muito própria, de uma força, intensidade e coerência arrebatadoras.










Treze mulheres (sim, porque se eram transexuais algumas delas incluíam-se no lote das que meio mundo hetero pagava para ter na cama – a proximidade a que estava delas serve como prova…) entraram entretanto em fila pelo fundo da sumptuosa sala, e sentam-se em frente ao palco. Uma a uma sobem ao palco onde em cima de uma placa giratória se expressam, se exibem, se desnudam de emoções…. Ternura, angústia, alegria, emoções expressas no limite, com imagens captadas por duas câmaras e que Charles Atlas sabiamente manipula numa estética belíssima. Arte! Belas, muito belas, nuas no tronco, debilitadas fisicamente fruto do avançar da idade, excessos de maquilhagens ou pinturas, voluptuosas ou não, negras, no fundo, mulheres e tudo o que se pode ver/ter/ser no sexo feminino. Ali, Atlas capta as angústias de Antony. A sua sexualidade está a nu, no fundo o filme da sua vida. A complexidade do espectáculo está aqui, mesmo que na genialidade se possa sentir que a meio a fórmula se pareça repetitiva. in*



A voz dele continua a mexer comigo. Trágica e luminosa... crua e doce... frágil, mas de um poder incrível. Capaz de desarmar e derrubar qualquer um.
Não sou excepção.