16.5.10

a viagem é um gigante mundo metafórico.



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"De um modo geral fazemos viagens a lugares que já conhecemos de livros, do cinema, da televisão. Perseguimos imagens, com a esperança de encontrar a sua veracidade. Por vezes somos surpreendidos, mas raramente a memória não se esbate novamente nas imagens que coleccionámos.
Nesta viagem procura-se um lugar de onde não se tenham nem imagens nem expectativas. Confesso não poder garantir que esta viagem venha a ser útil enquanto instrumento de formação do arquitecto. Pode até não ter arquitectura. Mas, de tempos a tempos, o olhar procura no que é vulgar e banal a lição de séculos. Mais do que entusiasmo por conhecer, persiste a necessidade de contrariar o conforto do que chamamos "casa" e "identidade". Poderiam ser todos os outros lugares, para lá da língua, do nosso folclore, para lá do roamming...
Representa o que as viagens planeadas perderam: um pretexto, uma deriva, um acaso. Na ideia arrogante de um mundo globalizado cria-se a ilusão de proximidade, de compreensão do "outro". Por isso não prometo trazer fotografias. Não trazer imagens que invalidem outras viagens com a mesma ambição de descoberta. Não invalidar o quotidiano secreto que se esconde por detrás.
Se resistir a expor uma imagem provarei (contra Marc Augé e o livro L'Impossible Voyage) que as viagens ainda fazem sentido."

fragmentos de "Destino Tavora", um dos "Projectos Específicos para um cliente genérico", por Pedro Bandeira

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