9.12.10

We went down till Venice.



©thebuildup

Com a mesma intenção de há 2 anos atrás, voltamos a Veneza. Bastante menos "pirotecnia" desta vez; mais silêncio. Uma espaço tensionado entre a intrusão de elementos descontextualizados e constituintes do existente "pavilhão", introduzindo uma reflexao sobre escala, proporção, harmonia e equilíbrio; um outro enevoado a tornar a sua espacialidade corpórea e quase palpável, através de um percurso espiral através de diferentes layers de condensação - uma espécie de "nuvem suspensa" -, outro em que Olafur Eliasson tornaria o tempo uma coisa menos volátil, mais espacializada e mais mensurável,... muita poesia, uma Arsenal respirável e integrada no todo (não apenas contentor, mas também como "objecto" de composição), que usou cada sala para demarcar um momento e um "estado" distintos. Ainda assim, para quem fosse sedento de informação (nós escravos da sociedade da hiper-informação), esta não seria a Biennale ideal. Não por uma ineficácia programática, mas porque o mesmo programa constituiu uma tentativa de não se auto-referenciar/validar em qualquer "ideologia", se apoiar numa intenção de "voltar à raiz" (que falácia) e adoptar um olhar optimista sobre o papel da arquitectura, ser anacrónica do sentido de nos permitir questionar (a mesma sociedade que se designa acima) os primeiros motivos, as primeiras emoções, restituir e resgatar uma relação pessoal e sensorial/perceptiva com o "espaço" como entidade quase absoluta. (ainda que este olhar posterior quase "poetizado" pouco ou nada tenha a ver com essa raiz reclamada) Podemos achar que a abordagem foi mais genérica ou mais leve ou mais superficial, que a crítica não esteve lá (ainda que o tema escolhido tenha sido em parte uma crítica bastante obvia ao circuito pelo qual a arquitectura se tende a reclamar) mas no fundo, enfatizando a "experiência" e o "efémero", tentou ser mais global, não se perder na tecnocracia da Biennale anterior ou no hermetismo da disciplina, e adoptar um discurso transversal, horizontal; apelar a sensações ou instintos que todos podem compreender, tratar elementos de que todos se apropriam, o "espaço" como espaço de encontro entre "People (who) meet in Architecture". Mas no fundo, faltou alguma "política". Faltou uma validação que a "arquitectura" me parece ter muito mais para lá dos seus aspectos fenomenológicos. Teria sido perfeito se o tema se chamasse "people meet architecture", mas o "in" contextualizante, teria a meu ver, algo de muito mais social ou "sociológico" para ser reflectido.

Do Giardini, Belgica e Holanda suscitaram o meu interesse, por descolarem uma vez mais da receita "projecto-plantas-cortes-alçados-maquetes" - a primeira focando atenção no uso e desgaste de "elementos/objectos arquitectónicos" (deslocando-os do seu contexto, quase arte povera, a lembrar que estes têm energia, reacção, e memória próprios) e a segunda no "desuso" de estruturas edificadas da cidade de Amesterdão, abrindo um capítulo de reflexão sobre o fenómeno re-actualizado das emergentes Shrinking Cities, oferecendo uma rede de edifícios e uma teia de possíveis relações institucionais (formais ou informais) (as tais indústrias criativas, que "criativamente" se descolam de circunstâncias burocráticas (cada vez mais inertes?) e se aproximam de uma espécie de "weak urbanism" ou das "soft tools") para reacender o seu estatuto, desempenho e vitalidade no contexto contemporaneo daquela (e de qualquer outra) cidade. O Pavilhão Britânico pela dupla homenagem a Veneza/Ruskin, revelando um duplo olhar e duplo registo (desenho/fotografia) - de personagens britânicas sobre o contexto social/económico/político no qual a Biennale sedimentou a sua geografia.
Esperamos pela próxima.

19.11.10

vicissitudes.



Summer in Sicilia.
© sven neubeck

Fall in Vienna.
© sven neubeck

16.6.10

6.6.10

i get world sick everytime i take a stand.



Epá.. isto é tão bom tão tão mas tão bom que só me apetece morrer já aqui.
Ou no próximo dia 22, no Flex. (O devendra que me desculpe.)

5.6.10

and i can't help thinking we grew up too fast.



This spirit is holding us down,
Push our shoulders in deep.
Pulling us to the light,
Toasted our backs in the sun.
(...)
But now our days are set straight,
We're seeing it all eye to eye.
The balance is still chasing after,
Just hanging on as you walk by.
(...)
This world is only getting smaller,
The choices aren't ours to be made.
I'm into wasting my days,
I feel like wasting my days.

And I see what's coming on,
And I can't say it will all be fine.
And I can't help thinking we grew up too fast,
No I can't help thinking we grew up too fast
And I know, I know, I know this won't last, a second longer than it has.

30.5.10

camouflage.




Aranda\Lasch, Installation at Reford Gardens, Metis, Canada, 2005



the pigeon project.




The Brooklyn Pigeon Project is an experiment in developing a satellite that records the city as seen by a flock of birds. Working with seasoned bird flyers, trained pigeons that fly in regular spiral patterns over Brooklyn are equipped with wireless video and microphones. Their flight paths capture unconventional portraits both of the city below and of flock motions. This unique way to see Brooklyn contrasts directly with the way the city is increasingly recorded and represented today. The advent of GIS and the rise of network protocols have placed virtually all urban imaging and remote sensing systems “on the grid.” Using a flock of birds as one component of an imaging apparatus, this project confronts the limits of this grid by creating an equally rich disclosure of the city: seeing the city as a flock does.

terraswarm, aranda/lasch, 2004


(clicar nas imagens para alta definição)

26.5.10

Whether or not you're turned from it...



Obrigada, mariana. Pelo ar fresco. Em todos os sentidos.

18.5.10

o mundo é algo irónico.



Há umas semanas, pedi à mariana a fórmula pessoal secreta - espécie de "emotional support"-versão-receita-caseira - para usar em meu benefício. Não resultou. Depois do algo traumático insucesso, e a receio de algum prestígio um tanto danificado, ela pôs-se a caminho para me fazer a demonstração.

Willkommen.

vamos à profundeza do meu ser no dia 22 de junho.





Dois amores, daqueles para a eternidade, oferecidos assim, na mesma noite, de mão beijada. No momento, obrigo-me a repensar todo o sentido de uma vida. A minha capacidade de decisão nunca foi algo de que me possa orgulhar.

16.5.10

tinha tudo para ser uma história de amor. IV



©mario bismarck

Eu e o desenho temos uma relação muito instável, mas recíproca e fiel. Temos ambos a sorte de ele não ser algo pesado para mim, nem eu ser algo de demasiado para ele. Quando me esqueço dele, parece-me responder da mesma forma, facilmente, rapidamente. (ainda que confesse quebrar mais facilmente este promissor equilíbrio quando assumo ser a primeira parte a lamentar tal condição). De qualquer forma, quando o resgato e lhe dedico uns minutos, como hoje, ele consome e preenche-me totalmente as horas, que com esta chuva agressiva, demorariam uma eternidade a superar.

a viagem é um gigante mundo metafórico.



©

"De um modo geral fazemos viagens a lugares que já conhecemos de livros, do cinema, da televisão. Perseguimos imagens, com a esperança de encontrar a sua veracidade. Por vezes somos surpreendidos, mas raramente a memória não se esbate novamente nas imagens que coleccionámos.
Nesta viagem procura-se um lugar de onde não se tenham nem imagens nem expectativas. Confesso não poder garantir que esta viagem venha a ser útil enquanto instrumento de formação do arquitecto. Pode até não ter arquitectura. Mas, de tempos a tempos, o olhar procura no que é vulgar e banal a lição de séculos. Mais do que entusiasmo por conhecer, persiste a necessidade de contrariar o conforto do que chamamos "casa" e "identidade". Poderiam ser todos os outros lugares, para lá da língua, do nosso folclore, para lá do roamming...
Representa o que as viagens planeadas perderam: um pretexto, uma deriva, um acaso. Na ideia arrogante de um mundo globalizado cria-se a ilusão de proximidade, de compreensão do "outro". Por isso não prometo trazer fotografias. Não trazer imagens que invalidem outras viagens com a mesma ambição de descoberta. Não invalidar o quotidiano secreto que se esconde por detrás.
Se resistir a expor uma imagem provarei (contra Marc Augé e o livro L'Impossible Voyage) que as viagens ainda fazem sentido."

fragmentos de "Destino Tavora", um dos "Projectos Específicos para um cliente genérico", por Pedro Bandeira

15.5.10

tinha tudo para ser uma história de amor. III


©
"Romantismo é uma questão de rompimento entre a imagem e a possibilidade de a pensar enquanto imagem de uma realidade potencialmente existente ou potencialmente exequível. Toda a imagem de uma coisa que reconhecemos mas sabemos não existir e não poder exister é uma imagem romântica."
Paulo varela gomes

Resumindo, não é só a minha tese que está numa fase de crise existencial.

tinha tudo para ser uma história de amor. II



Um dia acreditámos que adoptaríamos a arquitectura como um "modo de vida", a "Arquitectura" que não raras vezes nos emocionava de um modo completo. Acreditámos também que o seu impacto potencial teria em nós ou nos outros um efeito construtor ou, não querendo ser tão melodramática, algo de, pelo menos, regenerador. Na faculdade vemos em espelho (aquele heterotópico) depois apercebemo-nos que a imagem que o espelho nos devolve é a sua inversão, e afinal de contas, tudo é muito relativo, fechado em si próprio, quase insignificante na influência que poderia ter nesta complexidade do nosso universo comum - aquela crença no possuirmos ou criarmos uma "significação do mundo" tão limitada e reduzida.

Resumindo, a minha tese está a passar por uma fase complicada da sua vida.

18.2.10

quando me rendi a antonioni.

Concordamos todos que há algo sempre de muito poético nos destroços. Já que andamos numa da beleza na e pela destruição, aqui está a prova de que frangos e repolho e lagostas a voar no meio de pó e bocados de tudo e nada podem também tornar um momento sublime.


zabriskie point, antonioni, 1970
(aconselha-se volume máximo)

7.2.10

quando me rendi a Sarah Kane.

Ainda no seguimento deste - e deste meu anterior em que se pös no mesmo plano a literatura frente a produçao de imagens, será que a crueza e crueldade nas palavras de Sarah Kane de certa forma não será mais forte enquanto não materializada?; de certa forma, a liberdade interpretativa que nos é possível ao imergir no imaginário brutal que constrói e o modo como ela nos atira para o seu mundo pantanoso, apesar de tudo muito gráfico, não será filtrado e sempre muito levemente tratado quando nos forcamos a tornar físico aquilo que é produzido muito "metaforicamente"?; - Metaforicamente, porque nao sei bem se o "objectivo" de Sarah Kane é ser violenta, ou se esta violencia é "só" apenas usada como expressäo, porque é algo que domina e que experimenta interiormente muito no limite, para tentar encontrar a sua "verdade", um nietzschiano "móvel exército de metáforas"? .

quando me rendi ao expressionismo alemão.

"Before a cornfield he said:
The fabled fidelity of cornflowers
is a fine motif for women painters,
but i prefer the profound opera of the poppy.
It makes you think of blood clots and menstruation.
Of sufferinf, spitting up, going hungry, kicking the bucket -
in short: of the murky path of man."

Before a Cornfield, Gottfried Benn, 1913.


©

No seguimento deste post, só queria dizer que não me parece que o papel do "C"inema seja o de entreter. Irrita-me de certo modo a atitude "programa com o namorado/a fim de semana" que raramente varia entre o museu, o centro comercial, e o cinema (que não raras vezes é dentro do centro comercial) - alternada e aleatoriamente. Não me parece que todo justo que o cinema tenha de se inscrever neste circuito plasticamente cultural, em que para ocupar o tempo, se espera algo mastigavel e previsível. Talvez assim não seja possível compreender que, noutra dimensão, - talvez com mais algumas dimensões que a literatura (não tenho bem a certeza) - tem a ver com toda a construção de um universo - mais ou menos ficcionado - que tem de ser verdadeiro (no sentido do genuino), e portanto comprometido com uma sinceridade inquestionável que torna justificados todos os meios/grafismos/e artifícios. Aliás, se em algum momento se trata de lidar com emoções extremas, seria muito errado e injusto se não nos colocasse numa posição de desconforto, se não partilhasse aquele envolvimento a todo o custo que é irremediável nos livros que nos prendem da primeira página à última palavra. Tenho admitir que não vi o Anticristo, senão alguns fragmentos, embora tenha ouvido todo o tipo de críticas de público-gosto-muito-de-cinema-e-tambem-pipocas. Ouvi comparações com o Irreversível, alegando um voyerismo pretensioso, ouvi também que o pretexto não é mais do que a procura de um mediatismo "à là Von Trier" extremo, enquanto quando me lembro, por exemplo, do que é transversal a Breaking the Waves, Dogville, Dancer in the Dark, não vejo senão um prazer puro e e sofrido por uma procura da beleza na nudez da crueldade mais visceral do "ser humano". Para responder à cena do "ralenti", talvez em 1925, esta cena (em baixo) do "Battleship Potemki" (na qual é impossível negar a sua beleza) tenha ainda sido mais chocante - na altura cortado em pedacinhos nos EUA alegadamente por conter cenas de extrema violência, e posteriormente, motivo de "homenagem", quase elemento recorrente em muitos outros filmes como o " 'Padrinho". Ao mesmo tempo, e mesmo assim supostamente demasiado agressivo para a susceptibilidade comum da época, todo o filme marcou uma estética nova no cinema, e torna-se referência no panorama expressionista alemão, tanto no cinema em si, como em outras expressões (temos o Bacon como exemplo disso). O que deixa perceber que "censuras gráficas" não são mais do que produto de convenções mesquinhas sempre muito circunstanciais num tempo que rapidamente se vê esgotado. Para mim, não há nada mais violento que um exemplar filme de domingo à tarde.


Battleship Potemki, 1925, Sergei Eisenstein

27.1.10

uma espécie de cartografia.





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O silêncio que se sente aqui é algo que me desconforta, embora a causa que o alimenta seja justamente a contradição mais expressiva daquilo que se acabou de afirmar. No fundo, as imagens têm uma capacidade de síntese que ultrapassa qualquer habilidade de uma memória muito selectiva e fragmentada.