25.3.08
cidade (des)contí-nua.
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Perdoam-se os arquitectos, uns aos outros, entretidos com capas das revistas ou a fazer pela “vidinha”, perdoam-se os políticos, pelo viver habitual pátrio, perdoam-se os urbanistas, subtraídos à forma das cidades, perdoam-se os engenheiros, mais interessados em abrir as hiper-vias do futuro, perdoam-se os consumidores, que tudo devoram desde que tenha cachet, mas não se perdoam as cidades.
E elas crescem pela corrente de qualquer coisa que não sabemos ainda entender bem.
Não é da sociologia, nem da racionalidade pura da contagem dos minutos até ao centro da cidade, não é da arquitectura, porque já tudo é um pouco feio, não é da cultura, porque essa já é quase igual em todo o lado.
Faltam-nos cidades civilizadas. Falta-nos a liberdade de poder dizer, aqui, e habitar aqui, sem razão aparente, apenas porque se gosta ou detesta e não porque nos condenamos a ser remediados e com a vida e as cidades adiadas. Persistimos, técnicos e cidadãos, no total abandono, desleixo, com que desistimos das cidades. Reproduzem-se os mesmos "modelos", habituados, desadequados, envelhecidos, experimentados e negados, apenas porque há um “modelo”. Mas as cidades recusam um “modelo”.
A história recorre ao sabor da irracionalidade do desejo e, o desejo de quem faz a cidade portuguesa, é pobre, infeliz e triste, e apresentado com o vigor com que o novo design de comunicação nos abraça em promessas de um futuro que faz esquecer o presente. E a nossa modernidade, anacrónica e já fora da história, é um zonning obtuso, custeado por grandes pequenos médios promotores, complacentes arquitectos, passivos cidadãos, aos quais a política se submete. São as aspirações centrais e o jacuzzi e a hidromassagem sem tempo, mas com a esperança de que um dia, as novas acessibilidades restituam alguns minutos perdidos na ansiedade da viagem madrugadora – a 20 minutos de Lisboa, dizem.
A nossa contemporaneidade é o abandono e o desamor da paisagem, o libidinal betão armado convertido rapidamente em ouro e em deserto.
Tudo a 5 minutos do centro da cidade – já só falta querer viver na cidade.
in khiasma
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Isto é tão... assim mesmo!
ResponderEliminarBah
assim como?
ResponderEliminarassim.... verdade.
ResponderEliminarobrigad pelo post. é um desabafo (daqueles que vêm cá de dentro) q partilho, mas q n conseguiria expressar melhor.
intenso. ;)
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